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O casal e as rotinas

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É uma fase dedicada à conquista, de maior investimento, de fusão de interesses, onde todo o bater de asas é ao redor da pessoa amada. O outro é visto como o ser ideal, desprovido de defeitos e imperfeições. A fase da paixão é, assim, um estado de ativação fisiológica intenso, sendo que vários autores a concetualizam como um amor mais fugaz. No entanto, o casal é um sistema que vai evoluindo ao longo do seu ciclo de vida, transformando-se em torno dos objetivos e valores que gradualmente vão surgindo e consolidando o casal, a par do próprio crescimento individual de cada membro – o tão importante eu + tu = nós. Como tal, é esperado e normativo que, com o evoluir da relação no tempo e o amadurecimento da mesma, este amor apaixonado se transforme num amor mais companheiro, maduro e sereno. Aliás, quem aguentaria estar constantemente com as borboletas

a esvoaçarem no estômago e com o ritmo cardíaco acelerado?


Na abordagem da influência da rotina na vida do casal, as dificuldades começam quando emerge a crença de que a paixão e a novidade têm de predominar exatamente na mesma frequência e intensidade. Neste ponto, a rotina surge frequentemente percecionada como o monstro de sete cabeças entre o casal, olhada com desconfiança e como um caminho a evitar. Esquecemos, no entanto, a conotação positiva que a rotina também oferece às nossas vidas. As rotinas existem para trazer estabilidade e segurança ao nosso dia-a-dia, pois estão associadas a uma noção de previsibilidade que, por sua vez, fomenta o controlo nas nossas ações. Desde sempre que o ser humano necessitou de se sentir seguro

para potenciar a sua exploração do mundo e o seu bom desenvolvimento; e a perceção

de segurança e estabilidade nas relações são também ingredientes fundamentais, sobretudo para balizar transições e objetivos de vida do casal. Como exemplo, recordo a transição do casal para a parentalidade, onde a rotina desempenha um papel fulcral na garantia de prestação de cuidados aos filhos e na possibilidade de o casal consolidar o seu

papel de progenitores.


Gosto de pensar que o problema não está na rotina, mas sim no

que lhe acrescentam ou não. Naturalmente, a vida diária do casal está muitas vezes carregada de desafios e exigências, desde questões laborais, gestão de tarefas domésticas que consomem tempo de qualidade, educação dos filhos. Quando esse tempo existe, os parceiros já se encontram cansados fisicamente e sem energia emocional para colocar em prática a novidade.


É fundamental normalizar e tranquilizar o casal para o surgimento da rotina a determinado momento da relação, ajudando-os a resignificar a importância que esta tem: segurança, previsibilidade, organização do presente e do futuro.



 

ADOTAR ESTRATÉGIAS

As relações necessitam de esforço consciente e dedicação, para que não caiam numa posição de sedentarismo extremo, onde a tal má rotina ocupa um papel central e nefasto no casal. É importante a aceitação serena da rotina, permitir que esta ocupe algum espaço na vida do casal, mas também desafiar a díade a procurar e definir “válvulas de escape” – “O que podemos fazer de diferente? O que fazíamos antes que nos dava prazer e que se foi perdendo?”. Se existirem filhos, pode ser relevante que o casal faça uma reflexão das suas redes de apoio (seja os avós, amigos ou outros familiares) e recorra a estas para providenciar cuidados temporários (os filhos também gostam e precisam de novidade!). Neste ponto, o compromisso e as cedências de ambas as partes ganham lugar, não existindo uma “receita” universal, mas sim os programas ou atividades que fazem sentido e trazem bem-estar para cada casal.

 
 
 

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