Doença Mental e Relações: entre desafios e a possibilidade de reforçar laços.
- anateixeirapsicolo
- 31 de mar.
- 3 min de leitura
A doença mental não afeta apenas a pessoa que a vivencia, mas toda a sua rede de relações, especialmente a família e, dentro dela, a relação conjugal. Quando um dos membros do casal enfrenta um problema de saúde mental, a dinâmica da relação pode sofrer alterações significativas, o que pode representar um grande desafio para a relação.
O impacto na família
A família é, frequentemente, o primeiro suporte da pessoa com doença mental. No entanto, este apoio pode ser exigente e emocionalmente desgastante. Os familiares podem sentir-se sobrecarregados com responsabilidades adicionais. Além disso, podem surgir sentimentos de culpa, frustração e impotência, especialmente quando não sabem como ajudar ou quando enfrentam dificuldades no acesso a tratamento adequado.
Os filhos também podem ser particularmente afetados, uma vez que podem não compreender totalmente a situação e sentir ansiedade em relação ao futuro. Dependendo da gravidade da doença mental, pode ocorrer uma inversão de papéis, onde a criança ou jovem se sente responsável pelo bem-estar dos pais, o que pode comprometer o seu desenvolvimento emocional.
O impacto na relação conjugal
A conjugalidade é uma das áreas mais impactadas quando um dos membros do casal sofre de uma doença mental. A relação pode ser afetada por fatores como mudanças no comportamento, oscilações de humor, dificuldades na comunicação e, por vezes, a diminuição da intimidade e da proximidade emocional. O parceiro outrora conhecida pode agora tornar-se "desconhecido".
O histórico prévio e a dinâmica anterior da relação conjugal também podem ser fatores de risco ou protetores no surgimento e na evolução da doença mental. Relações que já enfrentavam dificuldades de comunicação, conflitos não resolvidos ou padrões de interação disfuncionais podem ver os desafios aumentarem com a presença da doença. Por outro lado, casais que possuíam um vínculo forte, com um histórico de apoio mútuo e respeito, podem encontrar na adversidade uma oportunidade para reforçar a parceria e desenvolver uma maior resiliência.
O parceiro saudável pode sentir-se sobrecarregado com a responsabilidade de cuidar do outro, levando ao desgaste emocional e, em alguns casos, ao desenvolvimento de problemas como ansiedade ou depressão secundária. A sensação de solidão dentro do relacionamento pode tornar-se uma realidade, uma vez que a pessoa com doença mental pode ter dificuldade em expressar os seus sentimentos ou em manter uma interação saudável.
Por outro lado, em alguns casos, o surgimento da doença pode aproximar o casal e fomentar a intimidade emocional. O apoio mútuo, a empatia e a adaptação conjunta à nova realidade podem fortalecer o vínculo e criar uma relação mais profunda e significativa. Quando há um compromisso genuíno em enfrentar o desafio juntos, a relação pode tornar-se um espaço seguro de crescimento e superação.
A falta de compreensão ou apoio adequado, no entanto, pode levar a conflitos, afastamento e, em alguns casos, à separação. No entanto, com estratégias adequadas, é possível fortalecer a relação mesmo perante estes desafios.
Estratégias adaptativas:
Acesso a informação e apoio profissional – compreender a doença mental e procurar ajuda especializada pode ser essencial.
Comunicação aberta e empática – criar um espaço seguro para a partilha de sentimentos e preocupações pode fortalecer a relação.
Autocuidado – tanto a pessoa com doença mental como o parceiro devem priorizar o seu bem-estar emocional e físico.
Definir papéis e limites claros – distribuir responsabilidades de forma equilibrada pode evitar o desgaste emocional excessivo de um dos parceiros.
Momentos de lazer e conexão – manter atividades prazerosas em conjunto pode ajudar a fortalecer o vínculo e reduzir o impacto do stress.
Reajuste das expectativas – aceitar que a relação pode precisar de adaptações e encontrar novas formas de estar juntos pode ser fundamental para a continuidade do vínculo.
A doença mental pode trazer desafios significativos para a família e para a conjugalidade, mas com compreensão, apoio adequado e estratégias eficazes, é possível minimizar o impacto negativo e fortalecer os laços afetivos. Cuidar da saúde mental não deve ser apenas uma prioridade individual, mas um compromisso coletivo que beneficia toda a dinâmica familiar.
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