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Depressão Pós-Parto

Ana Teixeira

Artigo em saudebemestar.pt

O que é a depressão pós-parto?
A depressão pós-parto carateriza-se por um episódio depressivo relacionado com o parto, onde sinais e sintomas como tristeza extrema, ansiedade, sentimentos de culpa e fracasso, choro fácil, irritabilidade, perda de autoestima, entre outros são muito frequentes. Veja mais informação em sinais e sintomas da depressão pós-parto.

A família e o nascimento do bebé
A transição para a parentalidade, quando desejada, é um momento marcante na vida de qualquer casal e família. Surge a necessidade da família se reorganizar perante este novo acontecimento de vida, de modo a acolher o novo membro. Mudanças e ajustes nos papéis familiares são inevitáveis, de modo a estabelecer uma nova dinâmica que vise a proteção da prole e a continuidade do sistema familiar.

Particularmente, o processo de gravidez e puerpério (isto é, o período posterior ao parto, durante o qual o corpo da mulher sofre um conjunto de manifestações físicas e emocionais até regressar ao seu estado normal, anterior à gestação) são acontecimentos marcantes para a vida da mulher.

Estas mudanças representam por si só uma vulnerabilidade psicológica para a mulher, podendo constituir-se como fatores de risco para o desenvolvimento de perturbações psicológicas, como a depressão pós-parto.

Incidência da depressão pós-parto
Uma crescente incidência da depressão pós-parto tem vindo a ser documentada. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão pós-parto afeta cerca de 1 em cada 6 mulheres, uma problemática com incidência comum, emergindo a necessidade de uma compreensão mais alargada deste fenómeno.

Esta maior compreensão torna-se relevante quando o surgimento de um quadro de depressão pós-parto pode influenciar negativamente a qualidade da relação estabelecida com o bebé, assim como perturbar todo o sistema conjugal / familiar.

Quando surgem os primeiros sintomas?
A depressão pós-parto corresponde a um episódio depressivo estritamente relacionado com o parto, com início, sensivelmente, a partir do 2 ou 3 mês após o nascimento do bebé.

Devido ao seu aparecimento mais tardio (como vimos, em média 2 a 3 meses após o parto), a depressão pós-parto distingue-se do conhecido blues pós-parto (baby blues), isto é, um estado afetivo ligeiro, como um humor depressivo, choro fácil, irritabilidade, confusão, alterações do sono que decorrem das naturais alterações hormonais que a mulher sofre associadas ao parto. Os blues podem ter a duração de algumas horas até vários dias, indo por norma até duas a quatro semanas após o parto. Revela-se, assim, um período afetivo normativo.

Sinais e sintomas na depressão pós-parto
Por norma, os primeiros sinais e sintomas na depressão pós-parto surgem a partir do 2 ou 3 mês após o nascimento do bebé. Na sua essência, estão dificuldades associadas ao desempenho do papel materno e à presença do próprio bebé, originando um conjunto de sintomas incapacitantes, a saber:
  • Queixas físicas, como fadiga acentuada, alterações no apetite e nos padrões de sono;
  • Níveis elevados de ansiedade e preocupação;
  • Tristeza extrema;
  • Irritabilidade;
  • Dificuldades de concentração, atenção e memória;
  • Fortes sentimentos de culpa;
  • Perda significativa de autoestima;
  • Choro fácil;
  • Sentimentos de culpa e fracasso.
Outros sinais e sintomas estão presentes num quadro de depressão pós-parto. Por um lado, algumas mulheres podem revelar um sentimento de incapacidade face aos cuidados do bebé, sentindo vergonha e revelando que determinados comportamentos, como o choro do bebé, a inquietam e irritam. As dificuldades em estabelecer uma ligação afetiva imediata com o bebé podem existir. Como tal, podem afastar-se do bebé e delegar os cuidados a outras pessoas do sistema familiar. Por outro lado, algumas mães revelam preocupações excessivas face à segurança e cuidados de saúde do bebé, sentindo culpa pela sua inadequação ao papel de mãe e não se sentirem à altura do desafio.

Causas da depressão pós-parto
São várias as teorias que se dedicam à compreensão das possíveis causas associadas ao desenvolvimento de uma depressão pós-parto. Num primeiro momento, as alterações hormonais provocadas pelo parto possuem a sua influência, uma vez que os níveis de estrogénio e progesterona que se encontram aumentados durante todo o período de gravidez diminuem drasticamente após o nascimento do bebé, seja por parto normal seja por cesariana. Mas para além desta dimensão física / biológica, fatores de ordem psicossocial estão presentes.

Como fatores risco, existem evidências científicas de que o ajustamento psicológico da mulher anterior à gravidez seja um fator importante, parecendo que mulheres que já apresentavam uma predisposição depressiva (depressão) revelam um maior risco de desenvolver uma depressão pós-parto.

O estado afetivo durante o processo de gravidez é também um fator de grande importância, onde a perceção de apoio, a qualidade do seu relacionamento conjugal e condições de acesso a cuidados médicos são aspetos cruciais na relação com a sintomatologia depressiva. Parecem ser as mulheres que carecem de apoio e suporte social, que revelam baixos níveis de investigação na relação conjugal e/ou vítimas de violência doméstica que são mais vulneráveis ao desenvolvimento de depressão pós-parto.

A depressão pós-parto tem também uma maior incidência em contextos onde o bebé revela dificuldades temperamentais (por exemplo, um temperamento mais irritável) o que dificulta o desenvolvimento de um vínculo afetivo e o estabelecimento dos cuidados adequados. As dificuldades ao nível da amamentação poderão também contribuir para o estabelecimento de um vínculo afetivo com o bebé e proporcionar o desenvolvimento de sentimentos de culpa e de incapacidade de cuidar do bebé.

As expectativas acerca da maternidade e crenças culturais podem também ser um fator de risco para o desenvolvimento desta síndrome. Frequentemente, a mulher vê-se confrontada com ideias erróneas de que a maternidade é um estado de felicidade constante, onde a tarefa de prestar cuidados ao bebé é um instinto natural e esperado de todas as mulheres. Sabemos que estas crenças estão longe da realidade, e o confronto da mulher com estas exigências impostas contribui para a construção de um sentimento de ineficácia e de incapacidade no seu papel materno.

A depressão pós parto pode afetar o pai?
No contexto das relações heterossexuais, não podemos esquecer que assistimos cada vez mais a um equilíbrio no desempenho dos papéis de género, sendo atualmente a figura masculina também uma figura cuidadora principal.

O pai está também suscetível a alterações de humor decorrentes não só da privação do sono e do stresse inerente a esta nova etapa de vida, como também tende a sofrer em silêncio por assistir ao sofrimento da parceira. Este silêncio tem frequentemente a função de proteção face à mulher, com o intuito de a apoiar na vivência deste quadro clínico depressivo.

A depressão pós-parto no homem tende a afetar entre 3 a 10% da população masculina. Os sintomas podem ser novamente da esfera física e emocional, onde a negligência dos mesmos pode perturbar também o bom desenvolvimento do bebé e afetar o relacionamento conjugal. Contudo, realizar o diagnóstico da depressão pós parto no homem não é fácil, já que muitos revelam dificuldades em assumir a sua vivência emocional, temendo serem ridicularizados. Como tal, muitos dos sintomas deste quadro clínico apresentam-se “mascarados”, a um nível de somatização sem uma causa física aparente, como as dores de cabeça, a fadiga generalizada, dores musculares.

Intervenção na depressão pós-parto
É fundamental a mulher compreender que não será uma má mãe se desenvolver uma depressão pós-parto. É possível ultrapassar a depressão pós-parto. Procurar a ajuda de um Psiquiatra ou Psicólogo pode prevenir outras complicações e sofrimento.

Ao nível do tratamento ou da intervenção na depressão pós-parto, destacam-se os objetivos essenciais:

  • Aumentar a coesão entre os membros da família, promovendo relações familiares apoiantes e positivas;
  • Mobilizar recursos que visem suporte instrumental e emocional à família;
  • Restabelecer níveis de interação adequados ao bebé, através da identificação dos padrões interativos mãe-bebé que possibilitem o aumento do envolvimento emocional mútuo;
  • Educar no sentido de fornecer competências adequadas que visem ajudar a resolver problemas que possam surgir com o bebé (por exemplo, ao nível do sono, da amamentação);
  • Incentivar a procura de outros testemunhos, nomeadamente mães que experienciam ou já experienciaram as mesmas dificuldades – não está só.
  • Promover uma autoestima positiva e incentivar a realização de atividades prazerosas, onde a mãe possa obter sucesso e uma sensação de relaxamento.
Por Ana Teixeira 26 set., 2022
Aritgo de opinião escrito para a comunidade Uniarea. Clique aqui para ler artigo completo.
Por Ana Teixeira 07 mai., 2021
O que é a Perturbação Borderline da Personalidade? A Perturbação Estado Limite (Borderline) da Personalidade diz respeito a uma estrutura de personalidade marcada por uma grande instabilidade a nível das relações interpessoais, dos afetos e da autoimagem, combinada ainda com uma grande impulsividade. Como tal, a Perturbação Borderline da Personalidade tende a provocar uma grande disfuncionalidade e sofrimento nos demais contextos de vida da pessoa, quer a nível pessoal, social e/ou laboral. Como é realizado o diagnóstico? O diagnóstico clínico da Perturbação Borderline da Personalidade obedece aos critérios de diagnóstico definidos pela quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais - DSM-V, desenvolvido pela American Psychiatric Association (APA) em 2013. Critérios de diagnóstico (APA, 2013): Padrão global de instabilidade no relacionamento interpessoal, na autoimagem e afetos, e impulsividade marcada, começando no início da idade adulta e presente numa variedade de contextos, como indicado por 5 ou mais dos seguintes critérios: Esforços frenéticos para evitar o abandono, real ou imaginado; Um padrão de relações interpessoais intensas e instáveis, caracterizado por uma alternância entre extremos de idealização e desvalorização; Perturbação de identidade: autoimagem ou sentimento de si próprio marcados e persistentemente instáveis; Impulsividade em pelo menos duas áreas que são potencialmente autolesivas (por exemplo, gastos, sexo, abuso de substâncias, condução imprudente, ingestão alimentar compulsiva); Comportamentos, gestos ou ameaças recorrentes de suicídio ou comportamento automutilante; Instabilidade afetiva devido a reatividade de humor marcada (por exemplo, episódios intensos de disforia, irritabilidade ou ansiedade, em regra durando poucas horas e raramente mais do que alguns dias); Sentimento crónico de vazio; Raiva intensa ou inapropriada, ou dificuldades em controlar a raiva (por exemplo, demostrações frequentemente de temperamento, raiva constante, lutas físicas recorrentes); Ideação paranoide transitória reativa ao stresse ou sintomas dissociativos graves. Outras características da P. Borderline da Personalidade Estima-se que a Perturbação Borderline da Personalidade esteja presente em cerca de 2% a 6% da população mundial, tendo sido predominantemente diagnosticada no sexo feminino (cerca de 75% nas mulheres e 25% nos homens). A Perturbação da Personalidade Borderline revela uma grande variabilidade, onde o padrão mais comum é a existência de uma instabilidade marcada no início da idade adulta, com a presença de episódios graves de descontrolo da afetividade e dos impulsos. No entanto, pode ser possível identificar alguns sinais clínicos no período da adolescência. Já com o avanço da idade, tende a existir uma estabilização desta perturbação, sobretudo na terceira/quarta década de vida, onde uma grande parte de pessoas com Perturbação Borderline da Personalidade alcança uma maior estabilidade nos seus relacionamentos e funcionamento afetivo. Como tal, o prognóstico da Perturbação Borderline da Personalidade poderá revelar-se favorável, sobretudo, se existir um acompanhamento terapêutico adequado. As características centrais desta perturbação de personalidade remetem para a presença de grandes flutuações, com períodos de grande confiança pessoal, a momentos de grande desespero e desorganização emocional, com rápidas mudanças de humor e medo intenso face ao abandono e rejeição. São pessoas emocionalmente muito instáveis, podendo rapidamente oscilar entre a alegria, a calma, ou a irritabilidade e a tristeza. Neste ponto, por vezes, tende a predominar alguma confusão entre a Personalidade Borderline e Perturbação Bipolar. Contudo, a primeira refere-se a um distúrbio de personalidade, remetendo para um padrão de pensamento e comportamento rígidos e desajustados, com alterações emocionais intensas e rápidas (por vezes, a ocorrer num só dia); já a Perturbação Bipolar é uma perturbação do humor, caracterizada por uma alternância de episódios de euforia (designados de mania), combinados com episódios depressivos, mas de maior duração (isto é, podem durar semanas ou meses). Todavia, os dois distúrbios podem coexistir, uma vez existirem comorbilidades associadas à Perturbação Borderline da Personalidade. A forma de sentir e pensar de uma pessoa com Perturbação Borderline da Personalidade é, assim, muitas vezes classificada de “tudo ou nada”, “preto ou branco”. Como tal, tendem a ver o mundo e as relações em polos de idealização e desvalorização: rapidamente a situação passa de fantástica a terrível, as pessoas de extraordinárias a malvadas. Em situações mais extremas e de grande stresse, podem surgir sintomas dissociativos graves, como delírios e alucinações auditivas e visuais, embora transitórios e de curta duração (distinguindo-se, assim, de um quadro de esquizofrenia). Pessoas com Perturbação Borderline da Personalidade podem revelar um padrão de “autossabotagem”, sobretudo quando estão perto de alcançar um objetivo – por exemplo, abandonar um percurso académico imediatamente antes da sua graduação, ou terminar uma relação positiva quando a mesma se pode revelar duradoura. A existência de um padrão instável na esfera interpessoal pode proporcionar que estes indivíduos sejam despedidos recorrentemente nos seus contextos laborais, assim como revelar uma sucessão de términos de relações e/ou divórcios. Ademais, pela possibilidade de existirem comportamentos autolesivos ou tentativas de suicídio, poderão resultar incapacidades físicas graves. Estes comportamentos autolesivos têm frequentemente a função de proporcionar alívio face a um sofrimento e stresse que são intoleráveis para a pessoa com Perturbação Borderline da Personalidade. As perturbações coocorrentes mais comuns com a Perturbação Borderline da Personalidade incluem a perturbação depressiva ou bipolar, perturbações de ansiedade, a perturbação de uso de substâncias e perturbações alimentares (particularmente a bulimia nervosa). Etiologia da P. Borderline da Personalidade A compreensão das causas que podem estar na origem da Perturbação Borderline da Personalidade são complexas e permanecem incertas. Alguns fatores, no entanto, podem exercer a sua contribuição. Ao nível de fatores genéticos, parece que a Perturbação Borderline da Personalidade é 5 vezes mais frequente em indivíduos que apresentam familiares de primeiro grau com a mesma perturbação. Fatores neurobiológicos parecem evidenciar alterações ao nível das estruturas e circuitos cerebrais, responsáveis pela regulação emocional, incluindo as áreas da amígdala, do hipocampo e das regiões do córtex orbitofrontal – relacionado com as emoções, o comportamento social e a personalidade. Fatores relacionados com a história individual/familiar parecem também revelar a sua influência, onde alguns indivíduos com Perturbação Borderline da Personalidade revelam uma história infantil marcada por abusos físicos, verbais e sexuais, negligência nos cuidados parentais, conflitos intensos no sistema familiar, ausência de afeto parental e/ou perda parental precoce. Intervenção Psicológica na P. Borderline da Personalidade A intervenção clínica ao nível da Perturbação Borderline da Personalidade é semelhante para a grande maioria das diferentes perturbações de personalidade. A psicoterapia revela-se a abordagem mais eficaz, permitindo uma exploração e revisão da história desenvolvimental da pessoa, potenciando a compreensão de padrões de funcionamento pessoal e relacional. Em algumas situações, a combinação com uma terapêutica farmacológica poderá fazer sentido, sobretudo na estabilização de sintomas comórbidos e/ou perante comportamentos autolesivos. Através de uma relação psicoterapêutica empática e colaborativa, procura-se também desenvolver estratégias de regulação emocional e do controlo de impulsos, assim como o desenvolvimento de relações interpessoais mais adaptativas. Procurar ajuda psicoterapêutica pode prevenir outras complicações e sofrimento.
Fobia Social
Por Ana Teixeira 13 mar., 2021
O que é ansiedade social? Certamente, todos nós ao longo da nossa vida já experienciamos situações de alguma ansiedade perante determinadas interações ou desafios sociais. Naturalmente, é esperado que perante um novo desafio – falar em público pela primeira vez numa palestra, ter uma entrevista de emprego ou ter um primeiro encontro – surjam sintomas de alguma ansiedade face ao nosso desempenho, uma vez que se trata de atividades nunca antes realizadas. Estas são situações consideráveis normativas, onde a ansiedade poderá surgir como adaptativa, impulsionando-nos para a ação. Contudo, em determinadas situações, a mesma ansiedade pode atingir níveis desproporcionais, interferindo negativamente no modo de vida da pessoa. O que é a perturbação da ansiedade social? A perturbação de ansiedade social, também designada por fobia social, diz respeito a um quadro clínico marcado pelo medo ou ansiedade intensa perante uma ou mais situações sociais onde a pessoa está exposta ao possível escrutínio dos outros, isto é, a uma possível análise, avaliação ou observação de terceiros. Possíveis situações sociais são, a título de exemplo, ter uma conversa ou um encontro social, ser observado em determinados contextos (como comer ou beber) e/ou estar em situações de desempenho (como falar em público). Estes contextos representam, assim, situações potencialmente ameaçadoras, desencadeando medo ou ansiedade intensa. A pessoa com perturbação de ansiedade social teme comportar-se ou mostrar sintomas e sinais de ansiedade (por exemplo, corar, suar, gaguejar, tremer…) que possam ser embaraçosos e observados pelos outros de uma forma negativa e humilhante. As situações socias são assim frequentemente evitadas ou enfrentadas pela pessoa com grande desconforto emocional, podendo, em algumas circunstâncias, desenvolver uma ansiedade antecipatória muito intensa ou mesmo um ataque de pânico. Por norma, o medo e a ansiedade são desproporcionais face ao perigo real que a situação social em si efetivamente provoca. Contudo, a pessoa que sofre de uma perturbação de ansiedade social tende a revelar um mal-estar clinicamente significativo, interferindo nas suas realizações pessoais, sociais e até ocupacionais. Sintomas da perturbação de ansiedade social Alguns sintomas fisiológicos possíveis de um quadro de ansiedade social são: Aumento do ritmo cardíaco; Tremores; Suores; Náuseas; Dificuldades em respirar; Boca seca; Gaguez; Dores abdominais; Tensão muscular; Dores de cabeça; Ruborização intensa (corar); Agitação motora. Consequências funcionais da perturbação de ansiedade social A gravidade da ansiedade social e a extensão das situações que provocam medo podem ser variadas. Em alguns indivíduos a ansiedade social pode estar limitada a determinadas situações – por exemplo, revelar uma ansiedade intensa perante uma exposição em contexto laboral, como ter uma reunião, mas sentir-se confortável num convívio social, enquanto outras pessoas podem revelar um padrão generalizado, onde a ansiedade e o medo emergem em quase todas as situações sociais. Em casos mais extremos, a pessoa poderá evitar comer, beber ou falar em espaços públicos, prevenindo-se de uma possível avaliação negativa do outro e da emergência de um sentimento de rejeição e de inadequação pessoal. Como tal, a perturbação de ansiedade social pode interferir na capacidade da pessoa em relacionar-se com o outro, mesmo nos contextos mais simples do dia-a-dia, de iniciar e manter relacionamentos saudáveis, assim como de se permitir a usufruir plenamente de situações de lazer, promovendo um forte sentimento de solidão. Ademais, um quadro de fobia social poderá perturbar as próprias escolhas e percurso escolar e/ou profissional; alguns indivíduos podem escolher intencionalmente profissões que exijam pouco contacto social, mesmo que não seja a carreira desejada, ou evitarem ativamente situações necessárias de avaliação e desempenho, o que leva a um prejuízo do seu desempenho e identidade profissional. Frequentemente, pessoas com fobia social reconhecem que os seus medos são excessivos e desproporcionais face à situação real, mas revelam grandes dificuldades na gestão emocional, potenciando um forte sentimento de incontrolabilidade, culpa e baixa autoestima. Causas e fatores de risco na ansiedade social Podemos identificar as seguintes causas / fatores de risco na perturbação de ansiedade social: Fatores temperamentais: indivíduos com perturbação de ansiedade social tendem já a apresentar traços de personalidade que remetem para um maior evitamento, timidez, inibição comportamental, perfecionismo e medo de avaliações negativas; Fatores genéticos: a perturbação de ansiedade social parece ser hereditária, onde os familiares de primeiro grau têm 2 a 6 vezes maior probabilidade de apresentar um quadro de ansiedade social; Fatores ambientais: determinados fatores relacionados com o ambiente e experiências de vida podem constituir fatores de risco, nomeadamente experiências precoces stressantes e de humilhação (por exemplo, bullying), ou mesmo relações de vinculação marcadas pela ausência de afeto e/ou violência. Timidez e ansiedade social – dois conceitos distintos Todos nós revelamos uma determinada estrutura de personalidade, pelo que naturalmente existem pessoas mais reservadas ou extrovertidas. Como tal, revelar uma maior ou menor timidez em situações sociais é um traço comum da personalidade e não representa uma patologia por si só. Também, é importante contextualizar o comportamento da pessoa face à sua própria história de vida, assim como considerar que o comportamento humano varia de acordo com as exigências do meio. Deste modo, existem diferenças importantes entre a fobia social e a timidez normativa. Quando a sintomatologia sentida vai para além de um mero desconforto ou ansiedade pontual, quando já existe um impacto significativo e adverso na vida da pessoa, ao ponto de limitar o seu funcionamento diário e rotinas pessoais, levanta-se a hipótese de uma perturbação de ansiedade social. Tratamento na ansiedade social A Psicoterapia revela-se a modalidade de intervenção mais eficaz em situação de Fobia Social, com destaque particular para a Terapia Cognitivo-Comportamental. Esta abordagem está centrada na psicoeducação acerca do distúrbio, na compreensão das relações entre emoções, pensamentos e comportamento que surgem nas situações sociais, assim como no desenvolvimento de estratégias adaptativas que visem a redução dos níveis de ansiedade – por exemplo, técnicas de relaxamento – e de promoção de competências sociais. A exploração da história pessoal de vida, com enfoque para acontecimentos significativos e relações interpessoais revela-se também importante, permitindo uma compreensão mais alargada dos possíveis fatores principiantes da patologia. É possível ultrapassar a fobia social. Procurar a ajuda psicoterapêutica pode prevenir outras complicações e sofrimento.
Por Ana Teixeira 31 jan., 2021
O impacto psicossocial do cancro Abordar a temática do cancro sempre despertou medo entre nós. O cancro - ou as enfermidades oncológicas - pode ser definido como um crescimento incontrolável e anormal de células, levando ao desenvolvimento de neoplasias (tumores). Falamos de uma doença onde até ao final do séc. XIX não existia qualquer tratamento para mesma, o que contribuía para a ocultação dos diagnósticos clínicos e um percurso de sofrimento em silêncio por parte do doente. Com o desenvolvimento da ciência, a compreensão do cancro torna-se mais sólida, assistindo-se a processos de cura da doença oncológica, sobretudo, se o cancro fosse detetado e tratado precocemente. Para além da compreensão gradual da dimensão física da doença oncológica, desafios acrescidos começaram a surgir, particularmente na tarefa de transmitir as más notícias – o diagnóstico de cancro – ao paciente e sua família, assim como gerir as reações emocionais decorrentes do processo de adaptação à doença. De facto, não podemos esquecer que corpo e mente representam um todo em interação com o meio ambiente, sendo a saúde o reflexo deste equilíbrio. O que é a Psico-Oncologia? O cruzamento entre a Psicologia e a Oncologia pareceu, assim, inevitável. É graças aos trabalhos pioneiros de Jimmie Holland, uma médica psiquiatra que desenvolveu na década de 70 um serviço de atendimento e investigação sobre questões relacionadas com o cancro, que devemos a definição da Psico-Oncologia. A Psico-Oncologia é “uma subespecialidade da oncologia que procura estudar as duas dimensões psicológicas presentes no diagnóstico de cancro, nomeadamente o impacto do cancro no funcionamento emocional do/a doente, na sua família e nos profissionais de saúde envolvidos no tratamento; e o papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e sobrevivência do cancro”. Com a emergência da Psico-Oncologia, assistiu-se a uma valorização crescente da experiência emocional do doente oncológico. A Psico-Oncologia assume um papel crucial, a saber: Na compreensão da doença oncológica na sua dimensão física, psicológica, social e comportamental, com enfoque na compreensão do impacto psicológico do diagnóstico de cancro e respetivos tratamentos; No alívio da sintomatologia física e psicológica em resultado dos tratamentos médicos realizados; Na facilitação à adesão terapêutica, permitindo a redução dos níveis de stresse e a promoção da qualidade de vida do doente e sua família. A doença oncológica e as suas fases Atualmente, falar de cancro já não é sinónimo de uma “sentença de morte”. No entanto, a sua incidência a nível mundial tem vindo a aumentar, aliado ao facto de a doença oncológica representar uma doença crónica e de prognóstico incerto, suscitando um sentimento de ameaça contínuo à própria vida. Ademais, os tratamentos realizados poderão ser profundamente invasivos, com efeitos secundários que provocam limitações ao nível da funcionalidade, diminuindo, em consequência, a perceção de qualidade de vida. Desafios acrescidos existem se pensarmos em cada uma das fases que a doença oncológica pode assumir. A doença oncológica pode assumir diversas “trajetórias” provocando sentimentos, pensamentos e experiências distintas: Pré-diagnóstico: fase marcada por um estado de preocupação recorrente e sentimentos de dúvida perante a existência de sintomas considerados estranhos e desconhecidos. A espera por explicações médicas, assim como a realização exaustiva de exames clínicos que levem a uma (des)confirmação de um diagnóstico, poderá ser profundamente angustiante. Diagnóstico: momento onde os sentimentos predominantes remetem para o choque e a negação. Há a necessidade de procurar um sentido para o sucedido – “Porquê eu?” – pois o diagnóstico de cancro é considerado um evento traumático. Representa uma fase onde grandes quantidades de informação têm que ser processadas num curto espaço de tempo, potenciando a confusão mental já existente. Tratamentos: embora os tratamentos realizados vão depender da situação clínica e condição do doente, esta é considerada a fase de maior dor, de sofrimento físico e psicológico. Será um período de confronto progressivo com os efeitos secundários das terapêuticas, efeitos que, por vezes, são invasivos e mutilantes, como a fadiga constante e as alterações físicas e cognitivas. Estas consequências levam a uma perda de autonomia e um estado de maior dependência, podendo gerar fortes sentimentos de impotência pessoal. Ademais, a necessidade de despender tempo na realização de tratamentos provoca inevitavelmente uma rotura com os contextos de vida significativos, como a família ou o contexto laboral. Deste modo, a fase de tratamentos é considerada a fase de maior potencial para o desenvolvimento de perturbações psicológicas, particularmente quadros clínicos de ansiedade e de depressão. Remissão: é o período onde não são detetadas manifestações clínicas da doença. Representa uma fase de “lua-de-mel”, com o regresso gradual à normalidade e às rotinas de vida. Nesta fase poderão surgir reações emocionais contraditórias, ora de alegria e alívio pelo término dos tratamentos, ora de insegurança e desamparo, emergindo preocupações face ao futuro e mudanças surgidas. Este sentimento de insegurança poderá traduzir-se numa postura de hipervigilância em relação a sinais de recorrência da doença, assim como uma dependência excessiva dos contextos médicos – traduz-se pela chamada Síndrome de Damocles, isto é, a sensação de sentir uma “espada em cima da cabeça”, traduzindo o significado de viver constantemente com o medo da recaída da doença. Sobrevivência: um período de remissão prolongado pode significar a cura da doença, considerando-se clinicamente o marcador temporal dos 5 anos de remissão da doença após o seu diagnóstico. Na fase da sobrevivência emerge a necessidade de redefinir os objetivos de vida, de realizar um balanço de todo o percurso de doença. Pode novamente ser uma fase de confronto com as sequelas resultantes da doença, a nível físico, psicológico, social e económico. Estudos têm demonstrado que os sobreviventes de cancro revelam níveis mais elevados de distress psicológico, apresentando um maior risco de desenvolver sintomatologia característica de uma perturbação de stresse pós-traumático. Gerir as expectativas do meio social poderá ainda ser difícil, pois alguns familiares e/ou amigos podem esperar que os sobreviventes revelem uma conduta normativa e assumam uma atitude extremamente positiva. Recidiva: infelizmente, nem todas as trajetórias de doença terminam na fase de sobrevivência. A recidiva corresponde ao reaparecimento da doença, suscitando uma nova crise pessoal e familiar, com predomínio de sentimentos de desesperança, impotência e revolta. Esta nova experiência poderá ser mais devastadora que o diagnóstico inicial, uma vez que já existe conhecimento prévio do que se poderá enfrentar. Os medos são assim exacerbados, intensificando-se as ideias de morte. Fase terminal: nesta fase, poderá existir uma procura desesperada de novas opiniões clínicas e tratamentos alternativos. Reações emocionais intensas predominam, como o desespero e o medo do sofrimento perante a consciência da própria morte. Os cuidados de natureza paliativa revelam-se cruciais nesta fase, onde o objetivo já não será a cura da doença, mas garantir o melhor conforto e qualidade de vida possíveis. Uma vez que são cuidados que podem prolongar-se dias, meses ou anos, é fundamental desenvolver formas de cuidado humanísticas e ir ao encontro das necessidades e desejos do doente e família. O processo de adaptação à doença oncológica revela-se, assim, complexo, pautado por desafios singulares. Esta capacidade de maior ou menor adaptação à doença revela-se de extrema importância, traduzindo-se num fator de proteção ou de risco na qualidade de vida do doente. Acompanhar o doente e respetiva família em cada fase do percurso da doença é imperativo, facilitando-se o próprio processo de adaptação e reduzindo-se os riscos emocionais. Como tal, a Psico-Oncologia desempenha um papel fundamental na avaliação e intervenção nas questões psicossociais e necessidades da população oncológica.
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